Impressionante como o tempo passa e as palavras dos autores continuam sendo tão atuais. Outro dia, ao ler Tartufo de Molière, uma obra datada dos idos de 1660, parecia estar lendo sobre um indivíduo de hoje…cheio de falcatruas. Será que a humanidade mudou tanto assim? Não sei!!
No entanto, o que quero mesmo é falar de “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões. No Canto I- verso 106, o poeta diz:
“No mar, tanta tormenta e tanto dano
Tantas vêzes a morte apercebida;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigna o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?”
Se pensarmos, quase 500 anos se passaram e tudo na mesma…A obra Os Lusíadas foi escrita em 1557 e editada em 1572.
A obra é linda e vale a pena ler na íntegra.
Você pode encontrar a obra completa aqui.
Falando em Camões, Marcos Bagno, em seu livro Preconceito Linguístico, comenta sobre a troca de R por L, e vice-versa, cometido pelas pessoas com problemas em pronunciar esses encontros consonantais. Ele explica que muitas palavras derivadas do latim sofreram essas mudanças, ex. Duplu = dobro. Ele acrescenta, ironicamente, que Luís de Camões sofria desse “mal”, pois, em seu livro, “Os Lusíadas”, ele escreveu várias palavras com este “problema”, tais quais: ingrês, púbricas, etc. E eu encontrei mais uma..frauta. Como diz Bagno, as pessoas que trocam o L pelo R podem dizer que são leitores de Camões! Muito lindo!:-)
Vale a pena ler o livro de Bagno também: pequeno por fora, grande por dentro..:-)
Referência:
BAGNO, Marcos. Preconceito língüístico: o que é, como se faz. 25. ed. São Paulo: Loyola, 2003.