Segundo Paz (1993, p. 98), a literatura abre portas para o conhecer: “Os poetas nos ajudaram a conhecer as paixões e, assim, a nos conhecermos: a inveja, a sensualidade, a crueldade, a hipocrisia e, enfim, todas as complexidades da alma humana”. O autor menciona, por exemplo, a poesia de Walt Whitman como aquela que se misturou ao “homem de rua” (PAZ, 1993, p. 88). Whitman trouxe novos pensamentos e atitudes para o século XX. A liberdade de expressão, a força do pensamento e o livre arbítrio são elementos que compõem seus poemas. Para amenizar a competitividade entre os homens da sociedade capitalista, Whitman, por exemplo, expõe cenas de afeição entre homens: abraços, toques e beijos. Em To a stranger, por exemplo, pode-se perceber o libertino, o libertador, a procura de amizade, a procura do “eu”.
To a stranger – de Walt Whitman
Passing stranger! you do not know how longingly I look upon you,
You must be he I was seeking, or she I was seeking, (it comes to me
as of a dream,)
I have somewhere surely lived a life of joy with you,
All is recall’d as we flit by each other, fluid, affectionate,
chaste, matured,
You grew up with me, were a boy with me or a girl with me,
I ate with you and slept with you, your body has become
not yours only nor left my body mine only,
You give me the pleasure of your eyes, face, flesh, as we pass,
you take of my beard, breast, hands, in return,
I am not to speak to you, I am to think of you when I sit alone
or wake at night alone,
I am to wait, I do not doubt I am to meet you again,
I am to see to it that I do not lose you.Fonte: Whitman (2008).
Para um estranho
Transeunte desconhecido! Não sabes como te contemplo com encanto,
Tu deves ser aquele que eu procurava, ou aquela que eu procurava (isso vem para mim como em um sonho)
Eu vivi, certamente, em algum lugar, uma vida de alegria contigo,
Tudo és lembrança, à medida que flutuamos lado a lado, fluido, afetuoso, casto, amadurecido,
Tu cresceste comigo, eras um menino comigo ou uma garota comigo,
Comi contigo e dormi contigo, seu corpo tornou-se não só seu, nem deixou meu corpo ser apenas meu,
Tu me dás o prazer de teus olhos, rosto, carne, enquanto nós caminhamos
Tu te apoderas da minha barba, peito, mãos, em troca,
Não devo falar contigo, devo pensar em ti quando me sento só ou acordo de madrugada só,
Devo aguardar, não duvido que devo encontrar-te novamente,
Devo precaver-me para não perder-te.
Fonte: Whitman (2008, tradução minha).
Muitos textos literários, como To a stranger, permitem aproximações dos sentimentos sobre os quais Paz (1993) discorre; dão mostras, ao leitor, dos caminhos percorridos pela humanidade; revelam intimidades de personagens distantes no tempo e no espaço. Para Petit (2008, p. 96), a leitura é um “[…] modo de alargar um pouco o espaço, de viajar sem sair do lugar, de se abrir para o novo, para o que está distante”. Assim, a literatura possibilita ao leitor conhecer novos mundos, novos lugares, novas pessoas. Por isso, leia, leia, leia…textos variados, autores variados, níveis de complexidade variados.
Referências
PAZ, Octavio. A outra voz. Tradução Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 1993.
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: 34, 2008
WHITMAN, Walt. To a stranger. In: WHITMAN, Walt. Leaves of grass: Book V. Calamus. 2008. Disponível em: http://www.gutenberg.org/dirs/1/3/2/1322/1322-h/1322-h.htm#2H_4_0061. Acesso em: 16 abr. 2016.