A repetição de palavras, a inversão de frases, muitas vezes, pode ser vista como falta de intimidade com a língua. Entretanto, dependendo das intenções do autor, é uma estratégia que pode provocar diferentes percepções: continuidade, intensidade, ritmo, desejos, dúvidas; como o poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meirelles – um texto curto, de palavras simples, que, em suas repetições, carrega a complexidade das vivências do ser humano. Adoro!
Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecília Meireles (2012)
Referência
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Ilustrações de Odilon Moraes. São Paulo: Global, 2012.